terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Nota: Em defesa dos rolezinhos e contra a discriminação social

Os jovens que participam dos "rolezinhos" são, em grande parte, os alunos das escolas públicas das periferias desde país. Escolas como as que damos aulas, jovens como os que são nossos alunos. Vendo as imagens daqueles jovens zoando nos shoppings enxergamos em cada um deles alunos que encontramos todos os dias em nossas escolas.
 Não são bandidos, não são baderneiros, são jovens querendo de divertir  em todos os espaços. Não aceitam mais serem segregados aos guetos das periferias e estão exigindo através do "rolezinho" esse direito que lhes é negado.

No último final de semana, ao menos cinco estados  presenciaram realização de vários Rolezinhos em diversos shoppings das suas capitais. Esses Rolezinhos assumiram um caráter de protesto pelo o que ocorreu no  no Rolezinho parte 3, no Shopping Metrô Itaquera, na capital paulista.

 Os rolezinhos surgiram no final do ano passado, quando jovens da periferia paulistana combinaram através das redes sociais um encontro no shopping para se divertirem, encontrar colegas, amigos, conhecerem pessoalmente as pessoas com quem conversam na internet. Sim, os objetivos eram simples, nada muito diferente do que jovens de 14, 15, 16 anos têm interesse de fazer nessa fase da vida. Ocorre que essa forma de integração social e a posterior repressão sofrida no último final de semana pela ação truculenta da PM expressam muito além disso.

Em primeiro lugar, a busca desses adolescentes pela integração social dentro dos shoppings demonstra que há poucas alternativas de cultura, lazer e integração para os jovens da periferia. A maioria está de férias, os cinemas são caros, as iniciativas de envolvimento dos jovens em atividades culturais, por parte dos governos, são precárias e a recente restrição à meia-entrada fechou mais ainda as possibilidades de um programa bacana para a juventude.

É claro que para justificar a ação da polícia, construiu-se um rol de justificativas infundadas de que os jovens promoveram algo parecido com arrastão, furtos e roubos, etc. Isso não é verdade. Houve sim uma correria pelo shopping, isso é parte do rolezinho, mas não com o objetivo de roubar ou fazer arrastão. Os jovens se animaram com o programa “daora” que organizaram e para quem já frequentou alguma sala de aula de jovens dessa faixa etária sabe que a energia da idade promove euforia, risada por qualquer coisa, bagunça, etc. Mas essa iniciativa de correr também tem um fundo político, não necessariamente consciente da parte dos jovens: eles são moradores da periferia, a maioria negros. Isso assusta em ambiente de rico e os shoppings são isso: ambiente de quem tem dinheiro pra gastar e não ambiente de quem não tem dinheiro para se divertir e improvisa diversões, como os jovens fizeram.

A reação dos donos dos shoppings expressa a defesa exata desse propósito desses ambientes de consumo. E o rolezinho atrapalha esse propósito. A ação da PM expressa o compromisso do governo com os donos dos shoppings e, portanto, com essa concepção restrita, elitista e excludente de cultura, lazer e diversão. A ação da PM reproduziu no shopping o que ocorre todos os dias nas periferias brasileiras. Os jovens são reprimidos de graça, os negros já são identificados como bandidos. O recente acontecimento no bairro do Ouro Verde na periferia de Campinas não deixa dúvida: ser pobre, negro e morar na periferia é um atraente para a violência policial.

Os rolezinhos ganharam um caráter de protesto mesmo. Ganharam o apoio e a força dos movimentos sociais sim. E, com certeza, a reação dos donos dos shoppings, da PM e do governo faz com que esses jovens que só queriam se divertir reflitam os problemas políticos e sociais que o rolezinho e suas consequências destamparam.

O Movimento Mulheres em Luta, o Movimento Nacional Quilombo Raça e Classe, a CSP-Conlutas e a ANEL vão “pro rolê”. Vamos expressar nossa indignação contra o racismo, contra o preconceito, a discriminação social e a repressão. Queremos dizer que a juventude deve ter direito à cultura, lazer e diversão, e que isso é responsabilidade dos governos. Vamos demonstrar que somos contra a restrição da meia-entrada, e se quiserem comparar com os protestos de Junho, nós vamos dizer: sim, tem tudo a ver.

Mais uma vez, expressamos nossa indignação com o descaso dos governos sobre a população. A diversão e “boa recepção” dos turistas que vem para Copa é alvo de grande preocupação dos governos, mas a juventude, os trabalhadores e o povo pobre do país sofrem com o caos no transporte, saúde, educação e nem direito ao lazer tem. Partiu rolê, partiu protesto. 2014 começou.

Assinam:
CSP-Conlutas
Movimento Nacional Quilombo Raça e Classe
Movimento Nacional Mulheres em Luta
Assembleia Nacional dos Estudantes-Livre

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