domingo, 25 de março de 2012

No mês da Mulher trabalhadora, uma homenagem a uma guerreira

 O adeus à ativista boliviana Domitila Por Cecília Toledo



Domilita Barrios de Chungara, que foi uma das mais importantes ativistas da Bolívia, faleceu no dia 7 de março em Cochabamba, na casa humilde em que viveu toda a sua vida. Domitila tinha 75 anos e morreu de câncer no pulmão. Ela foi a principal líder das donas de casa da mina de estanho Siglo XX que no final dos anos 70 fizeram uma greve de fome de dez dias e obrigaram a temida ditadura do general Hugo Banzer a voltar atrás e libertar quase uma centena de trabalhadores mineiros, presos por lutarem por melhores salários. Dessa luta surgiu o Comitê de Donas de Casa da Mina Siglo XX e projetou a figura de Domitila em todo o mundo. Desde então, cumpriu um papel de destaque nas lutas pelos direitos das mulheres e participou como representante das trabalhadoras na Tribuna do Ano Internacional da Mulher reunida no México em 1975. Liderava as mulheres das minas na luta pelo controle do abastecimento das chamadas “pulperías”, os armazéns nos quais os mineiros compravam os alimentos. Domitila também ficou conhecida por falar na poderosa rede de rádios mineiras, chamando os trabalhadores e trabalhadoras a lutar por uma vida digna e contra os temidos coronéis e generais que dominavam o país.
Domitila nasceu na mina Siglo XX e foi criada em Pulacayo, lugar que ficou conhecido porque aí, na Revolução de 1952, na Bolívia, ficaram conhecidas as importantes teses trotskistas que chamavam os trabalhadores a organizar um governo operário e camponês como única alternativa para salvar o país da destruição provocada pelo capitalismo e o imperialismo. Até hoje, as lutas dos homens e mulheres trabalhadoras da Bolívia e de toda a América Latina demonstram que as famosas Teses de Pulacayo guardam sua total atualidade. Em 2005 Domitila denunciou a burguesia como uma classe “brutal, mentirosa e ladrona” e chamou os pobres a fazerem uma revolução porque “as injustiças não vão durar para sempre”. Também nesse mesmo ano ela saudou a vitória de Evo Morales e do MAS, mas colocou em dúvida seu caráter “revolucionário”.
O livro de Moema Viezzer, “Si me dejan hablar”, é uma importante fonte para se conhecer melhor a vida e as idéias de Domitila. Como Moema “la dejó hablar”, Domitila “rasgou o verbo”. Aqui vão algumas de suas opiniões: “Cedo aprendi que ao trabalhador não dão nenhuma comodidade. Que se vire sozinho. E pronto. No meu caso, por exemplo, trabalha meu marido, trabalho eu, faço meus filhos trabalharem, assim somos vários trabalhando para manter a casa. E mesmo assim ainda dizem que as mulheres não fazem nada, porque não dão dinheiro em casa, que só o marido trabalha porque ele recebe um salário. Apesar de o Estado não reconhecer o trabalho que fazemos em casa, dele se beneficia o país e os governos, porque por esse trabalho não recebemos nenhum pagamento.

“Nós, mulheres, fomos criadas desde o berço com a idéia de que a mulher foi feita somente para a cozinha e para cuidar das crianças, que é incapaz de fazer tarefas importantes, e não se pode permitir que se meta em política. Mas a necessidade nos fez mudar de vida.
“Nossa posição não é igual a das feministas. A nossa libertação consiste primeiramente em conseguir que nosso país seja liberado para sempre da opressão das grandes potências capitalistas e que possamos formar um governo da classe trabalhadora, incluindo nós, as mulheres. Aí então as leis, a educação, tudo será feito de acordo com as necessidades do povo trabalhador. Então, sim, vamos ter mais condições de chegar a uma liberação completa, também e nossa condição de mulheres”. (Si me dejan hablar…)

Nenhum comentário:

Postar um comentário